28 de fevereiro de 2008
Em meio aos moluscos e monstros marinhos
Há de se notar que o ‘cinema paraibano’ já não mais existe. Existem os filmes, mas eles não bastam, são tímidos e incompreendidos, poucos e amorfos. Alguns acreditam que a Paraíba tem vocação para o cinema (como nos lembra cotidianamente o cineasta Torquato Joel e sua prosaica frase perfeitamente encaixada no clip publicitário da TVE/cultura). Outros evocarão mais uma vez os imortais, sempre eles, inquietos em suas tumbas elegantes e desconfortáveis, ostentando a glória de nossos antepassados. Não por acaso, um certo curta chamado ‘Aruanda’ será evocado, será a prova inconteste da força e da capacidade do cinema paraibano, será nosso mártir, nosso orgulho estampado em nome de festivais universitários, será o exemplo eterno a ser seguido e reverenciado. Os mais antenados e otimistas podem inclusive crer na nova, ou novíssima, geração de realizadores, como preferem chamar os jornalistas culturais da cidade, como se a juventude mais uma vez pudesse sublimar a sua típica rebeldia em pérolas ousadas de intensa e apaixonada criatividade artística.
Disso tudo, nos resta uma vocação que não se realiza, uma história que não se desenrola e um futuro que não se descabela. E o cinema paraibano passa a ser um jargão jornalístico para se referir a um contexto disperso e amorfo. Conjunto vazio do ponto de vista de reflexão sobre os filmes que aqui são feitos, pois se não há unidade ou algum tipo de diálogo entre os exemplares desse contexto, é estranho também constatar que não existe uma grande diversidade estética entre eles. E há de se lamentar caso se chegue à conclusão de que nossos filmes são pelados, sem serem pornográficos, são desconectados, sem serem originais, são apolíticos, sem serem anarquistas e são frutos de desejos individuais ou grupais, mas estão longe de ser masturbação ou suruba estética.
O cineasta Samuel Fuller dizia que o cinema era um campo de batalha. “Precisa haver morte, precisa sangue quente pulsando na veia, precisa de paixão, de paixão”, bravejava ele com a serenidade típica dos que pensam e se angustiam, enquanto se livrava de um jornalista magro e de óculos escuros que se encontrava no set de filmagem do seu filme ‘O homem que matou Jesse James’. É nesse campo de batalha, capaz de despertar emoções tão intensas quanto o enredo de uma novela das 8, que se pode fincar uma bandeira reluzente, ou então arrancar um mastro velho enferrujado nas entranhas da terra, ou costurar uma outra bandeira que ainda pulsa contra as sucessivas rajadas de vento às quais foi submetida. Mas é preciso perceber e fazer desse campo um espaço vivo e pulsante.
Então vamos a eles, a nossa única possibilidade de fincar os pés nessa batalha, vamos aos malditos ou santificados filmes que são realizados no dito cinema paraibano, vamos xingá-los, culpá-los da derrota de toda uma geração, ou vamos exaltá-los, ostentá-los em nossas paredes sedentas de boas novidades. Não se trata apenas de discutir, mas sim de afirmar, procurar aliados e seguir em frente, botes contra a corrente na direção do surpreendente abismo vindouro, onde poderemos enfim encontrar em meio aos moluscos e monstros marinhos, alguma pista secreta que nos leve ao tesouro perdido soterrado na ilha da Fantasia.
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4 comentários:
aê! bora, bora aos filmes. fazer, comentar, aguentar os ditos alheios... digo porque deixo dizer. justo, né?tenym
Belo texto, Arthur. Acho que isso devia ser enviado pra todo mundo q faz cinema por aqui...os velhos, os novos. Tá todo mundo meio q precisando ler isso.
Parabéns Arthur, fiquei muito feliz de ver e ler esse BLOG, o site www.ladonorte.net vai aoiar todas as açoes do te site, queremos mostrar toda a produção cultural da paraíba e do Nordeste...
Abraços fraternos
ladonorte.net = fabio Jorge
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