
legendas possíveis>(fotos catadas aleatoriamente no google - poderiam ser de 'Enraizados'?) ou (por quanto tempo uma imagem consegue ser bela?) ou ainda (o que é mais belo - o sertão ou a sua fotografia?)

Contradizendo a carta manifesto deste blog [post abaixo], não nos interessa no momento discutir o filme ‘Enraizados’ e sim o seu entorno. Mais uma vez temos um filme que explora visualmente o sertão paraibano, a miséria existencial dos estereótipos que lá habitam (e que fique claro o ‘lá’ é muito longe de onde escrevo agora, tão longe que minhas pernas não alcançam assim tão fácil como pode se pensar), a peregrinação pela água e a labuta diária sob o sol escaldante (sol este que ‘aqui’ posso acalmar com ventiladores portáteis e ar-condicionado de 7,5 mil BTU’s). Não se trata de combater ferozmente o dito ‘cinema rural’ e sim de problematizá-lo, pensar novas soluções éticas e estéticas. Estamos cansados de cores saturadas, planos bem enquadrados, música forçosamente regionalista, representações óbvias e atuações convincentes. O problema não é de fundo é de superfície. Sim, sabemos do sofrimento alheio, mas não sentimos.
Interessante pensar que o sintomático título ‘enraizados’, metáfora clara que se refere a dupla de personagens centrais, também serve como uma metáfora para o próprio cinema paraibano. Cinema é som e imagem em movimento. Com raízes não podemos nos mover.
O sertão paraibano não é tema novo e nunca será passado. Domesticar a sua beleza é soterrar a sua potência imagética. Por isso ainda espero o dia em que um garoto urbanóide calçado de Nike e boné do Los Angeles Lakers irá sacar a sua Sony de 4.1 mega pixels e fazer qualquer coisa que lhe der na teia com seus miolos fritando sob o sol (ainda e sempre) escaldante.
p.s.: Chico Viola e Marco Di Aurélio são personas dignas de um filme de Jodorowsky. Ao invés de irmãos que esperam a morte chegar, prefiro pensá-los como profetas lunáticos pregando filosofia oriental ou misticismo pagão.
Enraizados, de Niu Batista
Exibido no Teatro Santa Roza na quarta-feira 27 de fevereiro. Sessão lotada. Bela exibição, mas sem conversas instigantes ao final.