2 de maio de 2008

Os nibelungos, os campinenses, um ato de amor e uma sessão lotada aplaudindo de pé o guardador


Banzo Analítico, de Taciano Valério Terra Erma, de Helton Paulino Amanda e Monick, de André Costa Fotograma, de David Sobel Ecossistema, de David Sobel Metanóia, de Ronaldo Nerys, Hemacromatose, de Bréno César

Alguns dos novos filmes realizados em Campina Grande injetam ânimo e frescor na atual produção de cinema na Paraíba. O panorama exibido no Tintin, ou overdose, deixa claro a inegável força e a refinada educação estética de jovens realizadores atuantes na produção, na cinefilia e na articulação política do setor. A cada novo filme exibido (me parece que a maioria recém finalizado), dava pra perceber um grupo coeso mas não homogêneo em suas escolhas e interesses, o que é sempre bom e abre perspectivas para os novos rumos traçados por uma geração em busca de visibilidade e de afirmação artística.

Ainda espero poder discorrer sobre a minha relação de espectador com cada um dos filmes exibidos, mas a idéia agora é falar em sentido amplo e auto-afirmar uma posição pessoal em relação ao cinema paraibano: antes de mais nada acredito no desejo individual/coletivo em produzir e se lançar nesse abismo de mil léguas que é a aventura de se fazer um filme. Não importa o que lhe move, o que importa é o que você consegue mover.

Filmes são realizados e apreciados por diversos motivos. Apenas olhos e ouvidos que percebem podem ampliar e dar continuidade a experiência cinematográfica. Digo isso pra estabelecer um parâmetro que me parece distanciar o ato de criar e de criticar: enquanto um pressupõe a vertigem do envolvimento do processo criativo, a crítica se firma (e se afirma, infelizmente) como a incapacidade de perceber o outro (fora de seus interesses estéticos e filosóficos), mantendo uma desconfortável posição de distância em relação aos filmes que não lhe pertencem. Só a partir dessa reflexão motivada por questões pessoais e totalmente não relacionadas ao universo cinematográfico, consigo entender melhor a afirmação de Paulo Emílio Sales Gomes: o pior filme brasileiro é mais interessante que o melhor filme estrangeiro.

Consigo entender, mas não assumir inteiramente o slogan. As opções tão aí e as escolhas são sempre individuais. Algo sempre se move por trás e na frente da tela, nem que seja os espectadores que abandonam a sessão antes do fim, ou os entusiastas que aplaudem e se levantam euforicamente para externar o seu gosto. E é por isso que acredito nos filmes: Profissão de fé, como a interpretação de Truffaut para a última cena do filme ‘Luz de inverno’ (de Bergman), ou simplesmente um ato de amor, como o mesmo Truffaut acreditava que seria o cinema de amanhã (obrigado galera da margem, em especial Mirella Burity pelo lindo texto).

Ver um filme como ‘amigos de risco’ (esquema guerrilha produzindo por amigos em Recife) ou então presenciar uma sessão lotada no cine PE aplaudindo intensamente o filme ‘o guardador’ (feito por uma pessoa apenas: Diego), são experiências du karalho, assim como ambos os filmes são: du karalho.
E que se foda os erros, vacilos, incapacidades ou minhas opiniões e referências cinematográficas: eu quero mergulhar junto no sangue do dragão e ser invencível pra conquistar minha bela Kriemhild. Mesmo sabendo que meu tornozelo pode me matar (foto ao lado: os nibelungos - Parte I, de fritz lang).


ENTRE PARENTÊSES

Vamos a cerveja pra esclarecer:
(piada interna) ou (quem vencerá: juntem os filmes, os prêmios, as bitolas e as críticas e façam a contagem final)

Bom, falando de política, ao final da sessão do Tintin rolou um clima estranho que parecia querer acirrar uma disputa que não existe entre o cinema de Campina Grande e o cinema de João Pessoa. Em meio a provocações explícitas de que os realizadores pessoenses não conhecia a realidade campinense (com louváveis exceções segundo consta), e também em meio a uma exaltação pessoal em relação a produtividade do ‘Moinho do Engenho’, onde os campinenses não esperam editais e nem latas de películas para poderem filmar, fico com a cerveja ao final e com a certeza que os realizadores campinenses e pessoenses e paraibanos em geral (do moinho, da ABD/PB, das universidades, das ruas, do interior, ou da casa do caralho, tanto faz pra mim), continuarão fazendo cinema como bem entender, em VHS, HVX, PD, 35mm, 16mm, web cam e na quantidade que quiser e puder fazer. Respeito a articulação e a produtividade do grupo, e respeito principalmente o discurso de afirmar um espaço e um destaque que certamente o cinema realizado em CG já têm, mas acho danoso qualquer intento de desarmonia ou mal entendido, e só concordo em manter um clima de competição caso se disputa no pedra-papel-tesouro, muito mais legal do que dá nota aos filmes. Mas sei que não é nada preocupante (vários realizadores reafirmaram na ocasião a vontade de integrar cada vez mais a Paraíba em torno da produção cinematográfica) e que as perspectivas apontam para uma cooperação mais forte nos próximos projetos ...

E Finalmente sobre A MARGEM

A galera da margem intimou os realizadores criticados em seus textos (eu estou no meio com o maior prazer), e aceitando a sadia provocação de Ramon Porto (escritor do editorial entitulado ‘Um Cão Andaluz’ da edição nº 6, ano 1), publico em breve um texto chamado ‘não há margem sem centro’. A revista é boa demais, os caras e as mulheres gostam de cinema extremo (gozei de alegria ao ver referências a fulci, Deodato, bo vernius, nuneexplotation...etc), escrevem descendo o cacete com uma pretensa firula crítica que admiro mesmo com ressalvas e ainda mantêm um horóscopo tosquíssimo na última página que me faz sorrir tranqüilo ao saber que existem tantos ficcionados e cinéfilos loucos (como todos devem ser) há alguns KM de onde escrevo agora. Só não me convence uma certa monogamia crítica que por vezes revela uma incapacidade em fugir do óbvio e alcançar a maturidade fora do limbo universitário. Talvez por isso não conseguem incluir os realizadores no processo de discussão e reflexão.

5 comentários:

Ely Marques A.K.A elyfly disse...

Foi muito legal poder ver tantos filmes paraibanos de uma vez só!
Por minha proximidade com Campina, fiquei com uma sensação boa de criança que junta e mistura os amigos e as histórias de lugares diferentes em um só lugar...

Pena mesmo foram os discurso que divergiram do sentimento comum em todos os presentes.

Como sou, muitas vezes, considerado um indivíduo pertencente a Campina Grande, vou me dar o direito de me manifestar e dizer que sei e acredito que do muito que foi dito pelo representante do Moinho, definitivamente não reflete o total e verdadeiro pensamento, tanto dos membros do Moinho como também dos que fazem parte do audiovisual de Campina Grande.

Não conheço os motivos para os argumentos manifestados durante o discurso, muito pelo contrário, vejo dois grupos com muita energia e muito trabalho pela frente, um dos grupos, a ABD, já com mais tempo de vida, tem grandes e recentes conquistas que já entram para história do audiovisual paraibano. Mas ambos tem muita força e energia para lutar por um bem comum, e a união é fundamental, mesmo que às vezes cada um vá pelo caminho que achar mais correto.

Ricardo [DIVERSITÀ] disse...

Caraca, eu perdi essa sessão ultra-movimentada que teve até momentos tensos.

Mas oq salva pelo menos é o prazer de ler esse belo texto.

Grande abraço

Anônimo disse...

calma que ainda tou elaborando. :)

Unknown disse...

bom.. inda bem q nao tava lá pq se eu tivesse ia talvez arrumar uma "indisposição" com um certo "pau-no-cu".. na verdade fui defender o chamado vídeo sem capacidade, medroso, mal feito, sem pontos discutíveis que acabei levando 3 troféus pra nosso estado. "especial da crítica, especial do juri e aquisição canal brASil.. ACHO q esse deve botar a boca e o lápis q ele escreve num vaso sanitário e também se jogar... nao preciso mais falar nada...

^^

Mirella Burity disse...

obrigada pelo "lindo".
rs
=D